Testemunha de um dos eventos históricos mais importantes da história de Florianópolis, a invasão espanhola no século XVIII, o Morro do Rapa, no extremo norte da Ilha de Santa Catarina, faz, hoje, parte do “Caminho Brasileiro” de Santiago de Compostela. Repleta, além de histórias, de belíssimos cenários naturais, a Trilha do Morro do Rapa, que liga as comunidades da Praia Brava e Lagoinha da Ponta das Canas, conserva ainda as suas raízes como caminho de pescadores de um lado e de roças e pastos de outro, além de servir a atividades badaladas, atualmente, como o parapente e a escalada.

Fundada a colônia portuguesa do Santíssimo Sacramento, em 1680, acirrava-se a disputa com os espanhóis pelo comércio do Rio da Prata. A criação da província de Santa Catarina, em 1738, deveria, justamente, assegurar um porto seguro às embarcações de apoio portuguesas às novas colônias ao sul. Contudo, no ano de 1777, uma esquadra espanhola composta por cerca de 120 naus, fundeava no interior do Rapa para tomar em seguida, por terra, a Fortaleza de São José da Ponta Grossa. Em apenas quatro dias Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis, achava-se rendida.

O domínio espanhol do principal porto natural, no sul do Novo Mundo, não durou um ano sequer. Produto da belicosa época a “Atalaia da Ponta do Rapa” desapareceu sem deixar vestígios. Contudo, na atual Trilha do Morro do Rapa um portal, formado por grandes pedras de granito, permite, como a antiga Vigia do Norte, contemplar a imensidão do mar. Outros mirantes naturais se oferecem ao longo da trilha, sendo o do alto de uma área de escalada chamada de “Agulhinha”, acessível por um ramal secundário, o mais impressionante e perigoso deles, ainda mais sem estrutura alguma para visitação.

Eventualmente, o gado ainda circula pela cumeada do Morro do Rapa, bem como plantações de mandioca surgem em antigas roças. Porém, apenas a pesca se mantém com atividade tradicional na Trilha do Morro do Rapa. Além dos pesqueiros no costão vigias para a pesca da tainha são encontradas em ramais secundários na ponta da trilha na Lagoinha. Atualmente, a vegetação em regeneração assiste novos usos para a trilha, como o do “Caminho Brasileiro” de Santiago de Compostela. O trecho na Ilha, com cerca de 21 quilômetros, serve, oficialmente, como início do “Caminho Espanhol”, desde 2017.